domingo, 15 de julho de 2007



"Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidasos dedos despedaçados
um a um extraio assim tira a sorte enquanto
no ar de maio caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e que a prata dos anos tinja seu perdão
penso e espero que eu jamais alcance a impudente idade do bom senso

Passa da uma você deve estar na cama
Você talvez sinta o mesmo no seu quarto
Não tenho pressa
Para que acordar-te com o relâmpago de mais um telegrama

O mar se vaio mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterradoa canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhadoda mútua dor mútua quota de dano

Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterradoa canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhadoda mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso com os séculos a história do universo

Sei o puldo das palavras a sirene das palavras
Não as que se aplaudem do alto dos teatros
Mas as que arrancam caixões da treva e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro
Às vezes as relegam inauditas inéditas
Mas a palavra galopa com a cilha tensa
ressoa os séculos e os trens rastejam
para lamber as mãos calosas da poesia
Sei o pulso das palavras parecem fumaça
Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça."
(Fragmento de Vladimir Mayakovsky)

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"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." (Clarice Lispector)